05/06/2025 00:03
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Por José A. Carvalho/Twenty4news
Lisboa, 04 de junho de 2025 - muito se tem discutido sobre a fraca adesão do público ao cinema português. Apesar de contar com uma tradição rica e realizadores consagrados internacionalmente, como Manoel de Oliveira, Pedro Costa ou João Pedro Rodrigues, o cinema nacional continua a enfrentar salas vazias, preconceitos e uma desconexão entre criadores e espectadores. Entre os fatores que explicam esta realidade estão o afastamento temático e estético em relação ao gosto popular, uma distribuição limitada, o peso dos estereótipos e a concorrência desleal com o cinema internacional, que chega com campanhas massivas e orçamentos avultados.
Contudo, o futuro não está selado. Plataformas de streaming, uma nova geração de realizadores com abordagens mais acessíveis e géneros menos tradicionais (como a comédia popular ou o terror) começam a abrir novas possibilidades de aproximação ao público. O caminho para revitalizar o cinema português exige uma reinvenção cuidadosa: sem abandonar a sua identidade artística, é necessário encontrar formas de cativar os espectadores e transformar o cinema nacional numa escolha cultural regular — e não numa exceção.
É neste contexto que o 10.º Encontros do Cinema Português, realizado hoje nos Cinemas NOS Vasco da Gama, ganha particular importância. Organizado pela NOS Audiovisuais, o evento reuniu mais de 200 profissionais da indústria, celebrando uma década de apoio à produção nacional e apresentando 46 novos projetos de longa-metragem, num reflexo claro da vitalidade criativa que existe no setor.
Entre os destaques esteve a entrega do Prémio Canal Hollywood ao filme Pátio da Saudade, de Leonel Vieira, uma comédia musical com elenco popular, o que demonstra um esforço claro em produzir conteúdos mais próximos do gosto do público português. O realizador expressou a sua esperança de que "muita gente tenha curiosidade em ir ver o filme e se divirta". Houve também espaço para a reflexão estratégica, com a apresentação de um estudo da CresCine, conduzido por Manuel Damásio (Universidade Lusófona), que analisou o posicionamento do cinema nacional no contexto europeu, e um debate com o presidente do ICA, Luís Chaby Vaz, sobre os próximos passos para o setor.
O Futuro do Cinema Português em Debate | Créditos: José A. Carvalho/Twenty4news
Preocupada também com o futuro do cinema português, Elsa Mendes, Coordenadora Nacional do Plano Nacional de Cinema é perentória: “Seria muito importante que as estruturas que têm poder de decisão se sentassem à mesa e pensassem na melhor forma de uma iniciação ao audiovisual fazer também parte do curriculum dos jovens como fazem outras matérias” referindo, a necessidade de descentralização para que grandes e pequenos exibidores trabalhem em conjunto.
Apesar de apenas 3,8% das receitas brutas do mercado cinematográfico português provirem de filmes nacionais, o evento mostrou sinais de mudança. Susanna Hermida Barbato, diretora da NOS Audiovisuais, destacou a importância de encontrar projetos que atraiam o público português, afirmando que "trabalhamos para o consumidor nacional e temos de encontrar e apoiar aquilo que o espectador português quer ver”. Nesse sentido, Susanna convida o público a viver a experiência de ver um filme numa sala de cinema com todas as condições técnicas e uma oferta diversificada de temáticas narradas na língua de camões, “o português”.
O 10.º Encontros do Cinema Português não foi apenas uma celebração — foi também um sinal de alerta e um apelo à ação. Se a indústria quiser evitar mais décadas de salas vazias, terá de continuar a dialogar com o público, apostar em diversidade de formatos e reforçar a presença dos filmes portugueses tanto no grande ecrã como nas plataformas digitais. O cinema português tem talento e histórias para contar — falta agora garantir que essas histórias cheguem, de facto, a quem as quer (ou pode vir a querer) ver e ouvir.