18/01/2025 16:15
18/01/2025 16:15
Por José A. Carvalho/Twenty4news
'Angola, uma Vergonha Nacional'
A crise de saúde pública em Angola, evidenciada pelo atual surto de cólera, reflete problemas estruturais que se aprofundaram ao longo de décadas. Desde janeiro de 2025, o surto já causou 19 mortes e resultou em 283 casos confirmados, afetando Luanda, o Bengo e Ícolo e Bengo. A cólera, uma doença diarreica aguda que pode ser fatal se não tratada rapidamente, é amplamente transmitida pelo consumo de água ou alimentos contaminados. No entanto, o impacto desse surto vai além da questão sanitária imediata, sendo também um reflexo das deficiências crônicas no setor de saúde e infraestrutura básica do país.
O sistema de saúde angolano enfrenta desafios significativos, incluindo a insuficiência de recursos humanos, a falta de infraestruturas adequadas e a escassez de equipamentos e medicamentos essenciais. Estas fragilidades são exacerbadas pela desigualdade no acesso a serviços de saúde entre as áreas urbanas e rurais, o que agrava a vulnerabilidade das populações mais carentes a surtos de doenças. Além disso, a gestão inadequada de recursos públicos e a corrupção têm comprometido a eficácia das políticas de saúde e a implementação de medidas preventivas.
No caso específico do surto de cólera, o problema está profundamente enraizado na ausência de saneamento básico e no acesso limitado a água potável. Em muitos bairros periféricos de Luanda, como o Paraíso, onde o surto começou, as condições de vida são precárias, com esgotos a céu aberto e água contaminada sendo a única fonte disponível para consumo. A urbanização desordenada e a falta de planejamento adequado contribuíram para a proliferação de condições propícias à disseminação da cólera.
As autoridades de saúde têm implementado medidas de contenção, incluindo a desinfeção de áreas afetadas, rastreamento de contactos e campanhas de sensibilização para práticas de higiene. No entanto, essas ações frequentemente enfrentam limitações devido à falta de coordenação intersetorial e à insuficiência de recursos financeiros. A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem prestado apoio técnico e logístico, fornecendo kits de tratamento e materiais laboratoriais, mas a resposta local ainda é considerada insuficiente para lidar com a magnitude do problema.
A crise também expõe as lacunas no setor de saneamento básico. Apenas uma pequena parcela da população tem acesso a sistemas de esgoto adequados, e grande parte dos resíduos são despejados sem tratamento, contaminando fontes de água. Esse cenário é agravado pela falta de investimentos consistentes em infraestrutura ao longo dos anos, bem como por um modelo de governança que frequentemente prioriza projetos de grande visibilidade em detrimento de serviços básicos.
Para enfrentar a atual crise e prevenir futuros surtos, especialistas apontam para a necessidade de uma abordagem integrada. Isso inclui o fortalecimento do sistema de saúde, o aumento dos investimentos em água e saneamento básico e a educação da população sobre práticas preventivas, como lavar as mãos, ferver a água antes do consumo e tratar adequadamente os resíduos. Além disso, é fundamental combater a corrupção e promover a transparência na gestão dos recursos públicos para garantir que os fundos destinados à saúde e infraestrutura sejam efetivamente aplicados.
Em suma, o surto de cólera em Angola não é apenas uma emergência sanitária, mas também um reflexo das desigualdades sociais e das falhas estruturais que precisam ser abordadas de maneira urgente e sistemática. Sem ações coordenadas e investimentos de longo prazo, os surtos continuarão a ser um sintoma recorrente de uma crise de saúde pública mais ampla no país.
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