04/06/2025 18:40
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A autenticidade é tudo: Enquanto Mark Ritson critica o uso superficial dos influenciadores, Camila Coelho mostra que a influência genuína começa com verdade e consistência.
“Ritson e Camila no palco do ICON” | Créditos: José A. Carvalho/Twenty4news
Por José A. Carvalho/Twenty4news
Primeiro dia do ICON - MEO Arena, Lisboa
Num cenário onde o marketing está em constante transformação, com novas plataformas, tendências e métricas a surgirem quase diariamente, Mark Ritson — um dos mais respeitados pensadores da área — faz uma provocação que merece atenção: a televisão continua a ser uma das ferramentas mais poderosas na construção de marcas junto do grande público, apesar da narrativa dominante que coloca o digital como absoluto rei do marketing moderno.
Com base em dados robustos, provenientes de estudos como os da IPA e Nielsen, Ritson demonstra que a televisão ainda é insuperável no que toca ao alcance massivo e ao impacto emocional. Enquanto muitos se concentram em cliques e impressões, ele relembra que o verdadeiro valor de uma marca constrói-se na memória de longo prazo — e nisso, a televisão continua a liderar. Não se trata de nostalgia, mas de eficácia comprovada.
Claro que o digital tem o seu lugar — e um lugar importante. Mas, segundo Ritson, o erro está em ver o digital como uma solução única, quando na verdade o mais eficaz é um media mix estratégico, que combine os pontos fortes de ambos os mundos: o alcance e a influência emocional da televisão com a segmentação e a agilidade das plataformas digitais. Campanhas integradas, que cruzam meios e trabalham sinergias, são as que mais resultados demonstram em estudos de eficácia.
Outro ponto incontornável neste primeiro dia do evento — e que Ritson também não deixa passar sem crítica — é o fenómeno dos influenciadores digitais. Embora tenham ganho um espaço significativo nas estratégias de muitas marcas, ele alerta para um certo exagero na sua valorização. Muitos influenciadores oferecem métricas vazias: muitos likes, mas pouco impacto real. Além disso, a falta de autenticidade em muitas parcerias comerciais começa a ser evidente para os consumidores, levando à erosão da confiança — algo gravíssimo na construção de marca.
Mas o ICON também trouxe ao palco vozes que vivem o mundo da influência por dentro, e com enorme sucesso. Um dos momentos mais aguardados foi a intervenção de Camila Coelho, entrevistada pela influenciadora portuguesa Rita Pereira. Camila, uma das maiores personalidades do universo digital de beleza e lifestyle, partilhou o seu percurso com franqueza e visão estratégica. Falou sobre a importância da autenticidade, da coerência com os valores pessoais e da construção de uma marca própria que vá além das redes sociais — como é o caso da sua linha de beleza e moda.
Durante a conversa, Camila sublinhou algo que até ressoa com as críticas de Ritson: “Hoje, mais do que nunca, é preciso ser real. O público sente quando a recomendação não é verdadeira.” Esta reflexão reforça a ideia de que o sucesso no digital não está apenas nos números, mas na conexão genuína com a audiência. A sua visão mais madura e consciente do papel do influenciador contrastou com o uso superficial que tantas vezes se vê — e serviu como um excelente contraponto ao discurso de Ritson, mostrando que o problema não está na figura do influenciador em si, mas no modo como é usado pelas marcas.
Para Ritson, os influenciadores podem e devem ser usados, mas com moderação e, sobretudo, com discernimento estratégico. Devem funcionar como um complemento táctico, e não como o pilar de uma campanha. Quando usados fora de contexto, ou como substituto de uma estratégia bem desenhada, tornam-se mais ruído do que relevância.
Neste primeiro dia do ICON, marcado por grandes ideias e provocações úteis, ficámos com duas grandes lições: por um lado, Ritson desafia-nos a repensar o nosso fascínio pelo digital e a revalorizar os meios tradicionais que continuam a provar a sua eficácia. Por outro, Camila Coelho lembra-nos que a influência real exige verdade, consistência e visão de longo prazo. E que, mais do que escolher entre TV ou digital, o segredo está em saber como e porquê se usa cada um.