24/04/2025 12:38
24/04/2025 12:38
Por José A. Carvalho/Twenty4news
Em Dália e o Livro Mágico, acompanhamos a emocionante jornada de Dália, uma menina de seis anos cuja vida muda para sempre quando o seu pai, um famoso escritor, lhe faz uma proposta inusitada: ajudá-lo a criar uma personagem para o livro que está a escrever. Inspirada pelo seu brinquedo de peluche favorito, Dália escolhe um bode, uma escolha aparentemente inocente, mas que acabará por tecer os fios de um destino surpreendente.
Anos mais tarde, já com 12 anos e após a perda repentina do pai, Dália vê-se envolta num acontecimento fantástico e perigoso. É raptada por personagens da história inacabada do seu pai, através de um misterioso portal que a transporta diretamente para dentro do livro: O Livro Mágico. A partir desse momento, a jovem torna-se parte integrante do enredo e precisa encontrar uma forma de escapar, mergulhando num mundo onde realidade e ficção se confundem. Com a ajuda fiel do bode, agora uma personagem viva dentro do universo literário, Dália embarca numa aventura cheia de perigos, enigmas e revelações. As personagens do livro, criadas pela mente do seu pai, tentam assumir o protagonismo da história e impedir que ela encontre o seu caminho de volta. No entanto, só Dália tem o poder de escrever o capítulo final — um desafio que a faz confrontar as suas inseguranças e a falta de confiança em si própria.
Com apenas 12 anos, uma página em branco e uma caneta como suas únicas ferramentas, Dália terá de desvendar os segredos que o seu pai deixou para trás, distinguindo entre aliados e inimigos, e enfrentando escolhas que irão definir não só o fim do livro, mas também o início da sua própria jornada como criadora. Este filme de animação familiar, realizado por David Bisbano e com argumento também assinado por ele, conta com as interpretações de Agustina Cirulnik, Mora Kind e Gustavo Barrientos. Produzido por Ángeles Hernández, David Matamoros, Carlos Rivas, Guido Rud e Álvaro Urtizberea, Dália e o Livro Mágico estreia no dia 1 de maio, prometendo encantar públicos de todas as idades com uma aventura mágica sobre coragem, imaginação e o poder das histórias.
A atriz Madalena Almeida, que dá voz à protagonista Dália, partilhou a sua visão sobre os temas do filme, ligando-os à própria experiência de infância. “Mais do que tudo, há coisas que são importantes desde muito jovens — desde a infância até à adolescência. A minha infância, por exemplo, não foi vivida na era das redes sociais e dos telemóveis. Foi ainda uma infância bastante ‘primária’, sem essa tecnologia tão desenvolvida. Os telemóveis estavam ainda a dar os primeiros passos. Nesse sentido, vivi uma infância muito mais ligada a brincar, a ouvir música, a ler livros, a ver filmes e a inventar as minhas próprias peças de teatro. Havia espaço para criar, para imaginar. E isso é algo que eu acho essencial e que ainda hoje deve ser dado às crianças: espaço para se aborrecerem.” Madalena defende que o aborrecimento é uma chave criativa. “Porque o aborrecimento é o que muitas vezes leva à descoberta de outras coisas, como desenhar, criar, imaginar… e não estar apenas saciado por um dispositivo.”
A atriz alertou para a forma como a tecnologia tem entrado cada vez mais cedo na vida das crianças, por influência de colegas, amigos ou até dos próprios pais. E deixou uma reflexão importante: “Acredito que é importante resgatar esse espaço da infância, onde as crianças possam ter tempo para não fazer nada porque é nesse tempo ‘vazio’ que podem surgir ideias, curiosidade, criatividade. Talvez devêssemos todos perguntar: o que é que fizemos mal? Onde é que está o erro?” Para Madalena, a culpa não deve ser individualizada. “Não acho que se deva culpar uma única pessoa ou grupo. Na verdade, acho que todos temos alguma responsabilidade: pais, professores, a sociedade em geral… até mesmo as empresas que criam estas redes sociais. Estamos todos envolvidos num sistema que, mesmo quando impõe limites, é facilmente contornado. Por isso, sim, fazemos parte do sistema e talvez a única forma de mudarmos alguma coisa seja em conjunto — dar mais tempo e atenção às crianças, não deixá-las apenas em casa sem fazer nada, mas também não obrigá-las a estar constantemente ocupadas. Permitir-lhes esse tempo para descobrir o mundo por elas mesmas.” Apesar de ainada não ser mãe, Madalena conclui que tudo isto é fruto dos tempos em que vivemos, e defende que é necessário regular melhor, proteger mais e, sobretudo, dar espaço às crianças — para crescerem, criarem e simplesmente… serem crianças.
Em exclusivo para o Twenty4news, também a cantora Luísa Sobral, que dá voz à personagem Esther, mãe de Dália, refletiu sobre a importância de dar às crianças ferramentas para desenvolverem o pensamento criativo. “A minha voz no filme respeitou a vontade do original. Foi mais um trabalho de estúdio, de perceber o contexto e de ir tentando aproximar-me, pondo um cunho pessoal na identidade da personagem.” Enquanto mãe de quatro filhos, Luísa mostrou-se preocupada com o excesso de exposição tecnológica e defendeu mudanças estruturais. “Acho que a primeira medida que devia ser tomada era a de proibir os telemóveis nas escolas até, sei lá, ao 6.º ano porque é uma idade crucial para socializar, olhar à volta, ser criativo. E de repente estão a olhar para um telemóvel e não têm sequer capacidade nem maturidade emocional para gerir o que encontram nos vídeos.”
Para além da questão digital, Luísa destacou o papel das escolas públicas na promoção da cultura: “Deveriam investir mais e oferecer condições que permitam às crianças assistir a uma peça de teatro, a um filme, a espetáculos de dança. Só isso já seria ideal para desenvolver a criatividade de uma criança.” Luísa Sobral recordou ainda a sua própria infância, marcada pelos livros: “Ganhei o gosto pela leitura porque também não tínhamos outras distrações. Havia muito tédio. Não tínhamos nada para fazer, e por isso pegava num livro. Nas férias, a minha mãe estava a ler e eu também pegava no meu livro e lia. As crianças aprendem muito por aquilo que veem.”
Assim, Dália e o Livro Mágico transforma-se numa obra que, para além do encantamento visual, propõe uma reflexão urgente sobre o tempo da infância, o espaço da criatividade e a necessidade de proteger o direito das crianças a imaginar, a sonhar… e a escreverem os seus próprios finais.
Dália e o Livro Mágico | Trailer Oficial
Fonte: BA&N